BRAVO

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Para ti Capitão, Obrigado

A entrevista ao Treinador

“Tudo se prende com o momento”





Milton Ribeiro, 26 anos, treinador de futebol de 11 do escalão de juvenis do Sporting Clube da Cruz. Por circunstâncias tão próprias da vida que tantas vezes nos dá um amargo de boca, foi obrigado a hipotecar uma promissora carreira de guarda-redes. Anos mais tarde, descobre outra maneira de manter a paixão ligada ao futebol: tira o curso de treinador de Nível I, aos 24 anos, enquanto assume a equipa do F. C. Cerco do Porto no escalão de iniciados.
Inconformado por natureza, quer sempre mais e exige aplicação e força de vontade aos seus jogadores da mesma maneira que coloca desafios a ele mesmo. Para além de querer continuar a evoluir, actualmente, tem o maior desafio da curta carreira: fazer dos juvenis do Cruz Campeões!


Desafio formação – “Tenho o coração muito perto da boca”

LSV: Depois de teres representado o FC Porto nos escalões de formação, o que te levou a terminar a carreira de jogador tão cedo? O que correu mal?
MR:
Diversos factores, um deles, talvez o mais importante, foi ter sido diagnosticado Cancro de Pele ao meu pai e por conseguinte tive de começar a trabalhar para ajudar nas despesas da casa, o que me impediu de assinar um contrato com o Gondomar S. C. por impossibilidade de treinar bi-diariamente e nos horários em que se realizavam os treinos e também pelos valores que me tinham apresentado.


LSV: Se pudesses voltar atrás, o que farias de diferente?
MR:
Se tivéssemos essa possibilidade, acho que faríamos muita coisa diferente, mas tudo se prende com o momento. Se os momentos fossem os mesmos talvez me contivesse mais nas palavras, tenho o coração muito perto da boca, ainda hoje é assim.

LSV: O Vítor Baía, numa entrevista, referia que o que sentia mais falta era o nervoso miudinho dos grandes jogos. Do que sentiste mais falta quando abandonaste a competição enquanto jogador?
MR:
Do balneário, não me refiro ás instalações (risos), mas sempre estive em clubes com balneários excelentes, desde o F. C. Porto, S. C. Salgueiros, Gondomar S. C. e culminando no S. Roque. Sinto também saudades da adrenalina de sermos nós a estar lá dentro e a decisão do jogo passar também por nós.

Desafio Cerco – “Tinha jogadores que falavam mais comigo do que com os pais”

LSV: És um treinador jovem e tiveste como primeiro desafio orientar os iniciados do FC Cerco do Porto, um clube muitas vezes visto como uma equipa de «insurrectos» e oriundo dum bairro problemático. Sentiste essa (in)diferença nos teus adversários?
MR:
Não posso dizer que não, efectivamente percebia que os nossos adversários, os árbitros e até o público, empolavam muito mais o que fazia um jogador do Cerco e amenizava uma situação idêntica protagonizada pelos jogadores adversários. A titulo de exemplo uma situação que aconteceu no final do jogo contra o Maia, em que os meus jogadores foram insultados por jogadores e inclusive alguns pais e que depois de tudo sanado aquilo que ouvíamos era que equipas como o Cerco não deviam existir porque só queriam problemas, o que não foi de todo verdade. Mas também consegui que muitos adversários, no final dos jogos nos aplaudissem e nos congratulassem pela nossa disciplina. Isso deixava-me muito orgulhoso, não só por mim, mas principalmente por eles
.

LSV: Passaste dois anos no FC Cerco do Porto, onde orientaste miúdos com grandes carências, tanto a nível económico como afectivo, onde, possivelmente, eras a maior referência que eles próprios tinham. Até que ponto é importante a componente humana dum treinador na relação com os seus jogadores?
MR:
Penso que um treinador, além de ter de ensinar a jogar futebol, é principalmente um gestor de recursos humanos. Encontrei muitos “miúdos” fortes e que nada os abatia, mas também encontrei o contrário. Além disso eu próprio nasci e cresci no Bairro do Cerco e sei bem o que é passar dificuldades, tanto financeiras como afectivas, aproveitei um pouco desta experiência de vida para conseguir relacionar-me e entender melhor todos os meus jogadores. Posso dizer, modéstia à parte, que tinha jogadores que falavam mais comigo do que com os pais e por conseguinte eu conhecia-os melhor do que os próprios pais.


LSV: A ausência do FC Cerco do Porto, este ano, no campeonato, espelha alguma falta de organização que tu próprio experienciaste enquanto representaste este clube?
MR:
Com certeza. O F. C. C. P, tornou-se um clube de proveito próprio em que as pessoas que estão na parte directiva começaram a usar-se do clube e esqueceram-se que a sua principal função é servir o clube. Nos dois anos que lá estive assisti a muitas coisas e quase nenhuma em proveito das camadas jovens. Para a formação nunca havia dinheiro e nunca um director aparecia num treino ou num jogo, nem tão pouco para desejar um Feliz Natal! Foram dois anos muito desgastantes e que todas essas situações me levaram a tomar a decisão de que chegara a altura de sair.

Desafio Cruz - “Fazer dos juvenis do Cruz Campeões”

LSV: Este ano aceitaste um novo desafio e colocaste a fasquia bem alta. Pelo que já conheces da tua equipa e dos teus adversários, vais fazer dos teus «miúdos» Campeões?
MR:
Estamos a trabalhar para isso, sabemos que é uma caminhada difícil, mas confio plenamente no grupo que temos. Todos nós trabalhamos para conseguir atingir esse objectivo, os jogadores, a equipa técnica, os directores e toda a estrutura do clube sabem qual a meta a atingir e de que forma teremos de trabalhar para lá chegar.

LSV: Sentes que as tuas aptidões enquanto treinador evoluem constantemente com cada treino ministrado ou cada jogo orientado?
MR:
Acho que em tudo na vida estamos sempre a aprender, eu aprendo com toda a gente e gosto disso.


LSV: A tua equipa treina como joga ou joga como treina?
MR:
A minha equipa é trabalhada para jogar como treina. Tento com que os meus treinos sejam o mais aproximado à realidade dos jogos e para que eles estejam preparados para a imprevisibilidade do próprio jogo.

LSV: Quais os teus objectivos no mundo do futebol? Onde te vês daqui a 10 anos?
MR:
Costumo dizer que daqui a 10 anos quero estar a treinar as camadas jovens do Chelsea (risos). Quanto aos meus objectivos, aquele que pretendo realizar a curto prazo é fazer dos juvenis do Cruz Campeões, a médio longo prazo passam por aprender cada vez mais e assim estar preparado para avaliar as propostas que me surgirem.

LSV: Por último, o Milton Ribeiro guarda-redes tinha lugar em qualquer equipa do Milton Ribeiro mister?
MR:
(risos) Sou suspeito, mas vou tentar responder com a maior imparcialidade e objectividade possível. Eu sempre fui um jogador muito aplicado, concentrado, aguerrido e com muita força de vontade, acho que tinha algumas capacidades físico-técnicas também (risos). Para jogadores com estas qualidades há sempre lugar nas minhas equipas.


Uma profecia final de amigo: o sucesso na carreira de treinador vai compensar, de certeza, o abandono prematuro das balizas!

Luís São Vicente

1 comentários:

Anónimo disse...

Salgueiros 3 - 2 Foz
Progresso 1 - 2 P. Rubras
Rio Ave 3 - 0 Custóias
Cruz 5 - 1 Leça
Cerco Porto * - Torrão
Lavrense 1 - 3 Leça do Balio
Folga: Gatões