Milton Ribeiro

Há jogos que tem de ser analisados assim que terminam, o jogo desta semana é um desses.


Não sou muito apologista desta situação, no entanto é a quente que dizemos o que queremos e o que não queremos. 


É o que farei agora.


Quanto ao jogo em si posso dizer que o Valonguense é um justo vencedor. Porquê? Simples, trabalhou mais , lutou mais, ganhou mais e marcou mais, etc... esta é a verdade. O Valonguense nem é uma equipa que jogue por ai fora, no entanto é uma equipa muito batalhadora. Venceu por três bolas a uma, quem viu o jogo pode dizer que é exagerado, mas apenas se pode considerar assim quando a bola entra sem querer e os miúdos de Valongo quando marcaram sabiam que era isso que queriam fazer. Vitória justíssima.


Isto foi a analise mais fria que se pode fazer ao jogo.


Agora vou analisar aquilo que a minha equipa fez.


Muito pouco, jogadores apáticos no aquecimento, sem qualquer vontade, parece que estão ali obrigados a jogar futebol, não se divertem, enfim, uma equipa amorfa e fácil para qualquer adversário. 


Ouvi de fora que não havia moral, mas porquê? Não temos trabalhado bem? Não vencemos na passada semana? Não estamos vivos porra? Estamos sim e isso seria o bastante para nos dar moral para jogarmos a bola. Mas aquilo que se vê é alguns jogadores a brincarem com a cara dos outros. Não pronunciarei aqui nomes, pelo menos para criticar, porque todos devem saber aquilo que fizeram dentro de campo, se acham que o que foi feito foi o máximo que conseguiram, pois para mim não me pareceu.


O nosso plantel é composto por jogadores de grande nível, não digo isto apenas para ficar bem, digo isto porque realmente é aquilo que eu vejo e sinto nos treinos, mas quando chegamos aos jogos parece que falta alguma coisa... falta vontade? Mas porquê que falta vontade. Não são as vitórias que nos dão a tal falada moral? Então porque já partimos derrotados logo ao inicio? Não consigo compreender, acho que temos equipa para fazer bem mais, mas que não estamos a querer fazer. Como é possível andarmos durante a semana à chuva e ao frio, no meio da lama e depois chegarmos a domingo e fazer o que fizemos hoje?


Não é por falta de aviso, não é por falta de pedidos e de ordens, nem tão pouco de indicações. Isso fazemos nós, equipa técnica, mas também já estamos a ficar cansados.


Damos tudo de nós e exigimos tudo de quem trabalha connosco. Isso é pedir muito? Não achamos, apenas queremos que nos respeitem e que trabalhem como nós pedimos. Não temos visto isso e também não gostamos.


No final do jogo, o grupo foi reunido e a ordem de correr à volta do campo surgiu, não sem antes darmos a explicação. Existiram jogadores que durante o jogo se esforçaram muito, um deles o Diogo nº 6, saiu de campo a chorar e a pedir desculpa porque não conseguiu fazer mais. Fiquei estupefacto a olhar para ele, porque ele foi dos poucos que deu tudo o que tinha, mas sozinho não podia fazer mais. Obrigado menino, quem me dera que todos fossem como tu. 


Quando a equipa começou a correr à volta do campo, não faltaram criticas, vinham de todos os lados, mesmo até dos espectadores que estavam a criticar a equipa durante o jogo, a dizerem que não havia garra, que não havia empenho e que os jogadores não mereciam estar dentro de campo, mas no fim esqueceram essas mesmas criticas e afinal os jogadores que foram criticados durante o jogo, eram apenas miudos, e que tinham de mandar era o treinador correr.


Enfim, gente que não é coerente, mas a esses posso dizer umas coisas, dou a minha braçadeira a quem quiser ir para o banco e comandar a equipa, trabalhar durante a semana, sair do trabalho a correr e vir para os treinos, privar a família da nossa companhia para estar no futebol porque gostamos do que fazemos. Somos três treinadores e aquilo que o clube nos dá não chega para o combustível que gastamos para lá estar, sabemos que é apenas o que o clube pode dar e que o faz com muito sacrifício, mas há pessoas que julgam que andamos ali pela fortuna que o Ataense nos dá. Metam a mão na consciência e digam-me se não fariam o mesmo que nós fizemos no fim deste jogo.


Os jogadores tiveram 80 minutos para correr e não correram, por isso não estavam cansados no final e ao menos assim suaram a camisola para que quando chegarem a casa se justifique que o equipamento seja lavado. Não falo por todos, mas a quem servir a carapuça que a enfie. 


Ninguem foi obrigado a correr, podia ter ido embora quem quisesse, porque foi isso que eu lhes disse, mas os jogadores sabiam que tinham ficado bem abaixo daquilo que lhes foi pedido e por isso correram, mesmo debaixo dos incentivos para deixarem o campo. Foram honestos e respeitadores. Sentiram que falharam, mesmo sendo apenas miúdos, porque aqui também se aprende a ser Homem. 


Coloquei o meu lugar à disposição, porque não estou agarrado ao lugar, disse inclusive ao meu director que estava à vontade para ouvir os conselhos que vinham de fora. Sou homem e sei assumir aquilo que faço. Não devo nada a ninguem e posso andar de cabeça erguida.


Mais uma vez digo, os jogadores correram no final porque não correram no campo. E se voltar a acontecer isto, volta a acontecer o castigo.


Vestimos uma camisola que tem um símbolo. Símbolo esse que tem de ser respeitado, seja onde for que estejamos a representar o Ataense.


Não ando ali para agradar ninguem. Espero que isso fique bem explicito.


É preciso dar mais e sair de campo com a noção de que fizemos tudo. Para aqueles jogadores que deram tudo o que tinham, aqui fica os meus agradecimentos e digo que correram apenas por somos uma equipa, porque vocês não mereciam, aos outros digo que têm de seguir o exemplo dos vossos colegas e não ouvir o que dizer de fora. Até um treinador estava a dizer que se tivesse de correr que descia as escadas e ia embora, dá vontade de rir...


Bom domingo a todos, na terça feira estamos lá para trabalhar outra vez, mas apenas quem quiser, quem não quiser que não apareça, é melhor assim.


Milton Ribeiro